A 21ª Conferência Nacional dos Bancários aprovou, neste domingo (4), as resoluções que vão nortear o movimento sindical bancários no próximo período. Os textos são resultados dos debates acumulado nas conferências estaduais e regionais e durante os três dias de evento, que reuniu mais de 600 delegados sindicais, 395 homens e 209 mulheres, na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
“A 21ª Conferência Nacional dos Bancários foi muito boa, com delegados e delegadas de quase todo o país, tanto das capitais como do interior, e tirou resoluções importantes em defesa da soberania nacional, em defesa do Brasil, em defesa do emprego, contra as privatizações das empresas públicas, que são estratégicas para que o país cresça e gere empregos. Também tirou um calendário de lutas, que é importante que todos os bancários e bancárias do Brasil se engajem”, declarou Juvandia Moreira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
“Também aprovamos a defesa da mesa única, da CCT e dos acordos coletivos nacionais, reafirmando a importância da unidade nacional da categoria”, completou a presidenta da Contraf-CUT.
As resoluções versam sobre as mobilizações contra a Reforma da Previdência e contra a MP 881, que libera o trabalho aos sábados e domingos e feriados; em defesa da unidade da categoria bancária e da mesa única de negociação, em defesa da saúde, da soberania nacional, em da liberdade de imprensa e apoio ao jornalista Glenn Greenwald, pela apuração dos mandantes da morte de Marielle Franco, em defesa da liberdade do ex-presidente Lula, que é um preso político e não teve julgamento justo; e a definição do calendário de lutas.
Moções
As moções aprovadas tratavam da defesa da Amazônia e um modelo de desenvolvimento com Justiça Ambiental, contra a Polícia de São Paulo e o governador do Estado João Dória, pela derrota das políticas do governo Bolsonaro, que são prejudiciais ao povo brasileiro; pela soberania nacional, em repúdio a tortura e seus defensores, contra o uso de agrotóxico e em defesa da vida, em defesa da democracia, contra a prisão de Preta Ferreira e os outros cinco militantes do movimento de moradia, pela cota mínima de mulheres, com inclusão de pelo mens 30% quando forem definidas as liberações de dirigentes dos seus locais de trabalho para a atuação sindical, e pela liberdade imediata do companheiro Daniel Ruiz.
Calendário
Os delegados e delegadas da 21ª Conferência Nacional dos Bancários aprovaram a participação nas atividades do calendário de luta das centrais sindicais, como as manifestações contra a reforma da Previdência (6/8) e em defesa da Educação (13/8).
Banco do Brasil 9/8 – Dia Nacional de Luta contra a reestruturação 22/8 – Dia de Luta pela Cassi Setembro – Plenária e atividades em locais de trabalho em defesa da Cassi Encontro Nacional sobre a Cassi Abaixo-assinado contra a cobrança de 1/24 avos acumulado e aumento da coparticipação na Cassi
Caixa Campanha Nacional de defesa do Saúde Caixa para todos Conversar com os parlamentares defendendo a aprovação do PDC 956/2008 da deputada Érica Kokay, que susta a resolução 23 da CGPAR 14/8 – Atos pelo Saúde Caixa 4/9 – Atividades contra a reestruturação e em defesa do Saúde Caixa Campanha contra o fechamento de unidades envolvendo a população das agências afetadas Audiência Pública em todos os estados e municípios em defesa dos bancos públicos 7/10 – Apoiar a luta pela moradia Aproveitar o público que está indo às agências da Caixa para sacar o FGTS e fazer campanhas em defesa dos bancos públicos e do FGTS
O economista e professor da Universidade Estadual de Campinas, Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, abriu a primeira mesa de debates deste domingo (4) na 21ª Conferência Nacional dos Bancários, sobre “futuro do trabalho, impactos e organização sindical”. Para ele, o capitalismo não é responsável pela concentração de renda, redução de empregos e aumento da desigualdade, como foi atribuído durante o último Forúm Econômico Mundial. “A desigualdade não é uma responsabilidade do desenvolvimento capitalista, esta é uma responsabilidade do avanço tecnológico. Estamos diante de uma mudança tecnológica muito profunda, que inclui redução dos postos de trabalho e obriga os trabalhadores a se adequarem aos postos existentes”, disse o economista.
Neste cenário, de acordo com Pochmann, o mercado e a economia determinam se há ou não empregos.
A inovação tecnológica está associada à redução de tempo de trabalho e é preciso atenção à disputa dos bens de produtividade. “As tecnologias nos possibilitam trabalhar de qualquer lugar e sem limite de jornada de trabalho. Nós estamos sendo mais explorados, tendo mais doenças ocupacionais, porque há mais tempo de trabalho e menos ganho. O movimento sindical precisa se organizar para reduzir o horário de trabalho e lutar pela tributação dos ganhos por produtividade, que nos ajudaria a ampliar o fundo público e alterar a idade de ingresso das pessoas no mercado de trabalho”, observou o economista.
Pochmann fez um comparativo entre a idade que os trabalhadores da chamada “classe baixa” e os da “classe alta” entram no mercado de trabalho. “O ideal seria que todos iniciassem a carreira aos 24 anos. Mas, sabemos, os filhos de rico não começam a trabalhar antes de terminar a faculdade e estudar no exterior, por isso estão mais preparados. Já os pobres, começam a trabalhar mais cedo e têm que trabalhar e estudar ao mesmo tempo, logo não conseguem competir com os mais preparados”, observou.
Luta contra a precarização
Para Marcio Pochmann, é fundamental que o movimento sindical tenha um olhar estratégico com maior qualificação sobre o futuro e renove sua atuação sindical para lutar contra a precarização do mercado de trabalho e as desigualdades. “Os sindicatos atuam de forma contemporânea com a sociedade urbana e social, mas essa atuação não é compatível com a realidade tecnológica. Os sindicatos representam apenas enquanto os trabalhadores estão no local de trabalho. O que vemos hoje é o ressurgimento de instituições totalizadoras, que reúnem milhares de pessoas. Precisamos repensar a nossa forma de atuação e não tenho dúvidas de que eventos como esse, que reúnem bancários de todo o país, pode propor uma agenda de resultados que dialogue com esse novo mercado de trabalho”, disse.
Em sua explanação, o advogado José Eymard Loguercio, da LBS advogados, disse que os trabalhadores precisam se organizar para combater a ofensiva contra a organização sindical que o governo federal prepara para o segundo semestre. Ele se refere à entrevista do secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, publicada neste domingo (4), pelo jornal Folha de S. Paulo.
Para Loguercio, essa será mais uma etapa do projeto de desconstrução da classe trabalhadora que começou com a Reforma Trabalhista. “Os principais objetivos eram levar toda lógica da relação do trabalho para a relação individual, criar novas formas de contratos de trabalho e liberar a organização produtiva.”
Na sequência, a MP 881 transformou toda lógica de interpretação do direito. “Vamos passar a ler o direito pela lógica de econômica de mercado”, explicou o advogado. “Não bastasse a desregulação, a MP 881 ainda pode liberar o trabalho aos finais de semana, sem necessidade de contratação coletiva para isso.”
Agora, tem essa nova ameaça, prometida neste domingo pelo secretário do governo. “Do ponto de vista sindical, até então, o ataque veio pelas formas de financiamento. Na reforma trabalhista e depois pela MP 873. Agora, o ataque virá de outras formas”, acredita Loguercio.
De acordo com ele, a mudança tem a ver com as novas formas do capital se organizar. “Assim como já foi feita na ditadura militar, eles vendem a mudança como forma de modernizar as relações trabalhistas. O que se avizinha é a troca da unicidade sindical por uma pluralidade sindical”, afirmou.
“Nós defendemos a liberdade sindical, mas liberdade sindical não é ausência de regulamentação, pelo contrário, é uma série garantias para organização sindical, como a liberdade de auto regular-se”, elucidou Loguércio.
Como o sistema de pluralidade é extremamente complexo – justifica o advogado – os critérios devem estar em lei, para garantir a ação sindical. “Os países que passaram por mudanças como a nossa, fizeram isso em períodos democráticos, em que foi possível negociar praticas sindicais. Se nós estamos em épocas como a nossa, vamos ter mais dificuldade, o que exige de todos nós mais conhecimento da matéria, para disputar esse espaço de negociação.”
Segundo o advogado, os próximos meses vão exigir muita unidade das centrais sindicais. “A organização será fundamental para pensar na autonomia das entidades sindicais e enfrentar essa ideia neoliberal de que o sindicato serve para atrapalhar. Nós temos uma enorme tarefa, neste momento, que será encarar um segundo semestre focado na defesa com ataques do governo, que tem como objetivo a desconstrução do movimento sindical.”
Tecnologia bancária
Dados da apresentados pela economista Vivian Machado, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ao realizar uma exposição sobre “A Indústria 4.0 nos bancos”, mostram que os bancos investiram R$ 97,7 bilhões em tecnologia desde 2014. “Só o governo investe mais em tecnologia do que os bancos. Tanto no Brasil quanto no mundo”, destacou a economista.
De acordo com pesquisa realizada pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), as tecnologias que mais receberam investimentos em 2019 foram o BIG Data / Analitics (80%) e inteligência artificial (73%). “As tecnologias de análise de dados e de atendimento aos clientes sem a intermediação humana são as prioridades de investimentos pelos bancos na área de tecnologia”, disse a economista.
Com isso, tem crescido o volume de transações bancárias realizadas por meio tecnológico. As transações por celulares de pagamento de conta, por exemplo, cresceram 80%. Os dados apontam que, no total, 40% das transações são realizadas por celular e 20% pela internet. Apenas 5% das transações são realizadas nas agências. “E as transações por meio tecnológico vem crescendo ano a ano. São transações sem qualquer intermediação humana. E os clientes pagam cada vez mais caro por serviços que eles mesmos realizam”, observou Vivian.
Fintechs
Segundo a economista do Dieese, o Brasil tem hoje 529 fintechs. São Paulo sozinho possui 58% delas. Somadas às que estão nos outros três estados da região Sudeste, são 74,5%. Outras 17,9% estão no Sul do país. Estas empresas possuem 28 mil trabalhadores.
“O movimento sindical brasileiro está preparado para esse novo contexto tecnológico? Como será a representação e a ação sindical para esses trabalhadores nos seus locais de trabalho?” questionou a economista no final de sua explanação.
Caversan observou que hoje, existem 60 mil postos de trabalho a menos nos bancos do que existiam em 2012. “Isso representa mais de 11% de redução da categoria em um curto espaço de tempo”, disse.
Com base em informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), o economista do Dieese, disse que das cinco principais ocupações nos bancos, em 2003, 20,4% dos postos de trabalho da categoria nos bancos privados era de caixa de banco. A segunda maior ocupação era de escriturário, com 8,9% dos postos. Apenas um dos postos era na área gerência, o terceiro, com 8,3% dos postos de trabalho. As outras duas eram chefes de serviços bancários (7,1%) e de assistente administrativo (6,8%).
Em 2017, esse quadro era totalmente diferente. Entre as cinco principais ocupações, três eram na área de gerência. Gerente de contas (16%), gerente administrativo (10%) e gerente de agência (5%). Os caixas eram apenas 13% e escriturários 4%.
“Ou seja, a maior queda foi nas ocupações da base da pirâmide: escriturários e caixas. Temos que estar atentos, pois tem sobrado apenas trabalhadores com os quais temos dificuldade de comunicação”.
Os dados do mercado de trabalho no ramo financeiro mostram os bancários tem perdido peso. “Mas, trabalhadores que não são representados pelos nossos sindicatos, fazem parte do quadro de funcionários dos bancos”, observou.
Caversan disse que dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostram que tem caído a taxa de sindicalização no mercado financeiro. “O número de associados dos sindicatos tem se mantido, mas o emprego tem crescido entre trabalhadores não representados pelos sindicatos”.
“Precisamos ter em mente que núcleo duro de trabalhadores que representamos que no qual há a maior taxa de sindicalização está se reduzindo e que um novo grupo, não representado pelos nossos sindicatos, que está crescendo. Diante disso, o que acontecerá com o número de sócios e com a taxa de sindicalização? O que acontecerá com o perfil dos sócios? Como fica o poder de barganha nas campanhas salariais? Qual a efetividade dos instrumentos de luta como greves e paralisações? Qual a capacidade de o sindicato se manter relevante enquanto ator social, não só nas lutas da categoria, mas nas lutas políticas mais gerais?”, concluiu Caversan.
Durante a 21ªConferência Nacional dos Bancários, a secretaria de Políticas Sociais da Contraf-CUT apresentou a Campanha de Valorização da Diversidade. A proposta é uma conquista da categoria bancária durante as mesas de negociação com a Fenaban e tem o objetivo de criar agentes da diversidade nos locais de trabalho e na sociedade para combater a discriminação e promover atitudes inclusivas e oportunidades igualitárias. A Campanha acontece ao mesmo tempo em que é aplicado o 3º Censo da Diversidade.
De acordo com Rosalina Amorim, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, dentre os compromissos do agente da diversidade está o de levantar debates nas bases. “A campanha é fundamental para o combate à discriminação. Temos que ter o compromisso de ir à base dialogar com a categoria sobre a campanha e pedir para que os bancários se cadastrem para ser agente da diversidade. ”, afirmou.
Para que a atuação dos agentes da diversidade seja efetiva, foi criada uma carta de compromisso, que determina as responsabilidades do agente:
Promover o respeito à diversidade e a cultura de paz, para a construção de um ambiente mais saudável, democrático e pacífico
Combater toda e qualquer forma de discriminação contra as mulheres, negros, LGBT+, imigrantes, jovens, idosos e pessoas com deficiência.
Combater a intolerância religiosa e política.
Não ter, nem participar de atitudes e/ou fala machistas, racistas, LGBTfóbicas, xenofóbicas, de cunho discriminatório contra pessoas com deficiência, geracional e nem de intolerância religiosa.
Defender a igualdade salarial entre homens, mulheres, brancos e negros.
Não cometer assédio moral ou sexual.
Defender a acessibilidade para pessoas PCD
Respeitar o nome social e identidade de gênero das pessoas travestis e transexuais.
Resolver os conflitos com base no diálogo e no respeito.
Não silenciar diante dos casos de assédio sexual ou violência doméstica e denunciá-los aos órgãos competente.
Material da Campanha
As peças da Campanha de Valorização da Diversidade foram criadas a partir do conceito de unidade. “Cada parte com sua importância dentro da integralidade. Todas as peças, todas as diferenças, todas as cores são importantes para compor uma única sociedade, de direitos e oportunidades igualitária”, explicou Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.
De acordo com ele, as mãos unidas mostram a força de cada grupo e direcionam para a hashtag: #ninguémsoltamãodeninguém. “São estas mãos que seguram as peças do quebra-cabeças, que se unem e mostram a mesa de negociação iniciada por nossos debates, lutas e conquistas.”
A secretária da Mulher da Contraf-CUT, Elaine Cutis, afirmou que o desafio dessa campanha é formar agentes efetivos não só nos locais de trabalho, mas em toda a sociedade. “A Campanha de Valorização da Diversidade faz parte de um projeto de conscientização, que começou com a aplicação do Censo da Diversidade e foi ampliado até a criação do agente. O agente da diversidade tem que ir além dos debates. Eles também terão de identificar as situações de preconceito nos locais de trabalho e na sociedade e denunciá-las aos sindicatos”, finalizou.
A mesa de apresentação da Campanha de Valorização da Diversidade contou com a participação dos membros da Comissão de Gênero, Raça, Orientação Sexual e Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência (CGROS).
76% da categoria bancária é contra a Reforma da Previdência e 82% acreditam que as mudanças farão a desigualdade social no Brasil aumentar. Estes foram os principais resultados da Consulta Nacional dos Bancários, apresentada na manhã deste domingo (4), no início dos trabalhados do último dia da 21º Conferência Nacional dos Bancários.
“A consulta dos bancários é importante para orientar o nosso trabalha de base, fundamental na luta em defesa das nossas principais bandeiras. Com esses dados, sabemos quais os assuntos e quais abordagem devemos ter no dialogo cotidiano com os bancários”, afirmou Gustavo Tabatinga, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
A pesquisa, realizada na base das 10 federações representadas pelo Comando Nacional dos Bancários, do início de abril ao final de maio, mostra que 79% discorda com a alteração que o governo propõe na Previdência Social, que, além de instituir a idade mínima, aumenta o tempo mínimo de contribuição para 20 anos e exige 40 anos de contribuição para receber o benefício integral. Outros 6% não souberam opinar.
“Essa consulta demonstrou mais do que a insatisfação dos bancários com a reforma da Previdência, mostrou que os bancários dominam o tema e estão prontos e mobilizados para a luta”, garantiu Tabatinga.
O número é ainda maior quando o questionamento é sobre a redução dos valores dos benefícios para idosos pobres, 88% discordam e 6% não sabem opinar. Sobre a extinção do regime solidário e a implementação do regime de capitalização individual como modelo básico para a Previdência, 69% da categoria discordam e 16% não sabem opinar.
A maioria da categoria, 78%, também é contra o aumento da idade mínima e o tempo de contribuição para que as mulheres se aposentem.
Metas
Quando o tema da pergunta é a pressão pelo cumprimento de metas que leva muitos bancários ao adoecimento e, consequentemente, a fazer uso de medicação controlada, 54% dos que responderam conhecem alguém que já fez uso de medicação e 32% revelaram que já usaram.
Bancos públicos
Outra bandeira fundamental da categoria atualmente, a defesa dos bancos públicos é classificada como muito importante por 72% dos trabalhadores e como importante por 17%.
A 21º Conferência Nacional dos Bancários continua neste domingo com o debate sobre o futuro do trabalho, impactos e organização sindical.
Bancários de todo o país se reúnem em São Paulo a partir desta sexta-feira (2) para a sua 21ª Conferência Nacional. De acordo com a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, o evento não debaterá só o futuro da categoria, mas de todos os trabalhadores do Brasil, ameaçados pela atual conjuntura do governo Bolsonaro.
Nos debates de amanhã, estão previstas à presenças do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos (que disputou a presidência pelo Psol), do senador chileno Alejandro Guillier, independente, segundo colocado nas eleições presidenciais de 2017, do senador brasileiro Jaques Wagner (PT-BA), do dirigente do MST João Pedro Stedile, do economista Ladislau Dowbor e do ex-ministro da Previdência Carlos Gabas.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Juvandia explica que a conferência pretende discutir estratégias de defesa aos ataques contra os trabalhadores, representados pela “reforma” da Previdência e pela ameaça de privatização dos bancos públicos pelo governo federal. Ao todo, 700 delegados de todo o Brasil participarão do encontro.
“O ataque aos bancos públicos não afeta só os bancários. A redução das agências afeta toda a sociedade. Tem 950 municípios brasileiros que só tem agência bancária pois são atendidos pelos bancos públicos. As pessoas têm que ir pra outro município pra sacar até a aposentadoria, é uma série de dificuldades”, explicou ela.
Apesar das vitórias pontuais que alteraram o projeto da “reforma” da Previdência, como a retirada do modelo de capitalização da Proposta de Emenda a Constituição (PEC) 6/2019, o projeto ainda estará em pauta, já que as novas regras atingem a categoria. “Vamos discutir o futuro e como seremos afetados. Até a convenção coletiva dos bancários será afetada, pois tem uma cláusula que garante a estabilidade na pré-aposentadoria. Como as regras para a aposentadoria vão mudar, quem estava próximo de se aposentar terá de trabalhar mais tempo”, afirmou.
Desde ontem (1º), os funcionários do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal realizam seus respectivos congressos, também na capital paulista. O 30º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil tem como tema a defesa dos direitos dos trabalhadores na era digital e as ameaças de desmonte da instituição, encoberta pelo nome de “reorganização”. Com o lema “Todos contra o Retrocesso”, o 35º Congresso dos Empregados da Caixa também discute os riscos da reestruturação e a ameaça a direitos, além de questões ligadas a condições de trabalho e saúde.
A plenária final do 30º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB) Olivan Faustino, realizada na tarde desta sexta-feira (2), aprovou os encaminhamentos construídos durante todos os painéis realizados nesses dois dias de evento, pelos 260 participantes.
Sobre o painel do mundo do trabalho, o encaminhamento é reforçar a mesa temática sobre teletrabalho e home office. O objetivo é organizar a mesa, para que se amplie o debate nos sindicatos de todo o país.
“É uma forma de trabalho que, silenciosamente, tem crescido com o tema e é um modelo que a gente precisa discutir bastante. Precisamos debater as condições de trabalho desses locais remotos, com o objetivo de proteger as bancárias e bancários”, explicou Wagner.
Painel de Previdência encampar a luta contra a reforma da previdência participando das atividades organizadas pelas centrais sindicais. Reforçar a mesa dos bancos incorporados para melhorar o regulamento dos planos e que sejam administrados pela Previ.
Painel Cassi
O Congresso deliberou pela realização do Dia Nacional de Luta em Defesa da Cassi no dia 20 agosto, organizar abaixo-assinado contra a medida do Conselho Deliberativo que fere a cobrança de 1/24 na coparticipação, intensificar a mobilização e as reuniões nos locais de trabalho, buscar a reabertura de negociação, reforçar o trabalho com as entidades representantes, para juntos construir uma nova proposta.
“O cenário se agravou dentro da Cassi, com a nova direção fiscal. Nós temos que discutir dentro desse cenário. Por isso, nós precisamos intensificar a organização e a mobilização, além de estreitar os laços com as outras instituições para juntos sair com a melhor proposta possível para o futuro da Cassi”, afirmou o coordenador.
Mulheres
A plenária final também aprovou as propostas tiradas na reunião das mulheres, realizada na manhã desta sexta-feira. Entre elas, a inclusão no 31º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil a pauta das mulheres, LGBT, negros e pessoas com deficiência (PCD); aumentar os debates sobre mulheres e negros nos sindicatos e que esses debates reflitam no congresso. Em relação ao banco, aprovou uma moção de repúdio ao veto da propaganda do banco e de toda a postura racista e homofóbica do presidente do banco, reivindicar e lutar para que as mulheres militantes não sofram preconceitos nos locais de trabalho e garantir locais de amamentação em todos os postos de trabalho.
CEBB
A Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil completou 30 anos no 30º CNFBB Olivan Faustino. Por isso, foi realizada uma homenagem à Comissão, com a entrega de placas para membros que construíram essa história e a transmissão de um documentário. O material, inclusive, foi dividido em pequenas peças e transmitido durante todo o evento. Ainda nesta sexta-feira, Wagner Nascimento anunciou que a coordenação da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil, a partir da próxima semana, será exercida João Fukunaga, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Na atual conjuntura do país, com o patrimônio público e os direitos dos trabalhadores em risco, unidade e resistência são fundamentais para combater os retrocessos. Esta foi a defesa feita pelos delegados e delegadas que participaram do 35º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (Conecef), realizado em São Paulo nesta quinta e sexta-feira (1 e 2 de agosto). Com o slogan “Todos contra o retrocesso”, a categoria aprovou a pauta de reivindicações, reafirmando questões como a defesa da Caixa 100% pública, do Saúde Caixa e da Funcef, contratação de mais empregados e melhores condições de trabalho, fim do assédio moral e do GDP (programa de gestão de desempenho), combate ao descomissionamento arbitrário, dentre outras. Para os participantes do Congresso, o projeto do governo de enfraquecer e diminuir a atuação do banco público a fim de entregar à iniciativa privada setores como cartões, loterias e gestão do FGTS, está escancarado. O processo de desmonte passa também pelas inúmeras retiradas de direitos dos empregados, com resoluções do governo que impactam nos planos de saúde de autogestão das empresas estatais como o Saúde Caixa. Destacam-se ainda medidas como a redução de trabalhadores nas unidades, gerando sobrecarga de trabalho e adoecimento. O Conecef deste ano contou com a participação com 272 delegados, sendo 145 homens e 127 mulheres. O encontro é o mais importante fórum de deliberação dos empregados da Caixa, onde são definidas a pauta de reivindicações e estratégias de luta da categoria. Os delegados e delegadas aprovaram também as seguintes moções: em defesa da Caixa 100% Pública, do FGTS e do Brasil; em repúdio à perseguição do Governo aos estados do Nordeste; em defesa da liberdade do ex-presidente Lula e do líder sindical argentino Daniel Ruiz; de apoio ao aposentado do banco e ex-presidente da Fenae, Pedro Eugenio Leite, processado judicialmente pelo atual presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Durante dois dias, o encontro foi pautado por debates nos eixos: defesa da Caixa e dos bancos públicos, o combate à reestruturação e ao desmonte dos direitos, a defesa do Saúde Caixa, da Funcef e dos aposentados, a contratação de mais empregados, a saúde do trabalhador e condições de trabalho, a luta contra a terceirização, a verticalização e o descomissionamento arbitrário e a defesa da Previdência Social.
Resistência
Dionísio Reis, coordenador da Comissão de Empregados da Caixa (CEE/Caixa), destacou a importância do 35º Conecef no enfrentamento contra o desmonte do maior banco público do país. “São mais de 30 anos de muita luta e sairemos desse 35º congresso com uma pauta de reivindicações específicas que traduza as necessidades atuais dos trabalhadores da Caixa, por melhoria das condições de trabalho e contra o desmonte do banco”, resumiu o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenador da CEE/Caixa (Comissão Executiva dos Empregados da Caixa), Dionísio Reis “Para nós, empregados da Caixa, a defesa da empresa 100% pública soma-se à luta por mais contratações e contra a precariedade das condições de trabalho. Nacionalmente, temos o embate contra a reforma da Previdência e a defesa da democracia, sem a qual nenhuma reivindicação é possível. A conjuntura atual vai carecer de muita determinação e resistência. Não tenho dúvidas da nossa missão: defender os trabalhadores, os direitos, a democracia e a soberania nacional,” avalia o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Jair Pedro Ferreira.
As manifestações do próximo dia 13, contra a “reforma” da Previdência e o desmonte da educação, prometem ser ainda maiores do que as realizadas nos dias 15 e 30 de maio. O presidente da CUT, Vagner Freitas, garante que os trabalhadores e estudantes levarão às ruas “muita força, intensidade e paralisações”, para rejeitar os retrocessos do governo Bolsonaro.
Vagner diz que é preciso continuar nas ruas, já que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 ainda será votada no Senado Federal, depois do segundo turno na Câmara dos Deputados, prevista para a semana que vem. “É uma luta árdua. Percebeu-se na votação da Câmara que os empresários mandam no Congresso, com governo despejando recursos financeiros para que os deputados votassem a favor da reforma. O mesmo será feito no Senado. Nós precisamos continuar o enfrentamento”, disse o dirigente à TVT.
Segundo o dirigente, a CUT se soma à mobilização da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) contra a “Reforma da Previdência, em Defesa da Educação Pública e por Empregos” que já estava programada. “É importante ressaltar que essa é a principal luta da CUT. Não podemos esquecer que o governo Bolsonaro continua com seu processo de desmonte de todas as políticas públicas”, acrescentou.
O presidente da CUT diz que os sindicatos filiados estão orientados a realizar paralisações e, caso não tenham condições de parar, devem realizar manifestações. A ideia ainda é pressionar os deputados em suas bases para que mudem os votos no segundo turno da votação da PEC, na Câmara. “Vamos fazer manifestações na praça, no coreto da cidade em que eles têm mais votos, espalhar cartazes mostrando que são contra a classe trabalhadora. Nessas cidades de pequeno ou médio porte os deputados se sentirão mais pressionados. E se a base dele for uma cidade maior, nos grandes centros, vamos aos bairros onde também tem votação”, finalizou.
A Medida Provisória (MP) 889, que cria duas novas modalidades para o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e prevê a distribuição de 100% dos lucros do fundo, ameaça programas de habitação como o Minha Casa Minha Vida. E também ameaça emprego na construção civil. É o que mostra a reportagem de Dayane Ponte, veiculada no Seu Jornal, da TVT.
O FGTS é uma importante ferramenta dos trabalhadores na conquista da casa própria. Mas com a MP 889 aprovada, esse sonho pode ficar mais distante, além de agravar o desemprego. É o que explica o técnico do Dieese Victor Pagani.
“Essa liberação dos recursos do FGTS vai acabar descapitalizando um fundo público, cuja finalidade além de dar uma garantia para o trabalhador no momento do desemprego e da aposentadoria é contribuir para o financiamento, sobretudo da casa própria”, diz Pagani. “Com a descaracterização do fundo pode faltar recursos para o financiamento do investimento em moradia e da infraestrutura para saneamento, e com isso agravar a crise de emprego que estamos vivendo no setor da construção.”
Programas habitacionais como minha casa minha vida estão entre os prejudicados. Marcelo Ferreira dos Santos, que é presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil na região de Guarulhos e Arujá, na Grande São Paulo, tem observado a redução do setor nessas cidades. “Nós tivermos falta de investimento nos últimos anos na questão do Minha Casa Minha Vida principalmente na baixa renda, que é o que mais gera emprego.”
Trabalhadores de baixa renda estão entre os que serão mais prejudicados, garante também Josemar Bernardes André, presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Construção, do Mobiliário e da Madeira de São Paulo. “A princípio, o fundo de garantia subsidia as construções populares e esses saques que serão liberados vão prejudicar a construção dessas moradias populares. Esse iniciativa do governo federal vai prejudicar principalmente os trabalhadores de baixa renda.”
Os funcionários do Banco do Brasil e os empregados da Caixa de todo o Brasil se reúnem a partir das 9h desta quinta-feira (1º) para debater sobre questões que afetam seus cotidianos de trabalho e definir estratégias e planos de ações para defender os bancos públicos e seus direitos e conquistas. Os congressos seguem até sexta-feira (2).
CNFBB
O 30º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB) seguirá a temática “Em defesa do Banco do Brasil e dos seus funcionários na era digital e do desmonte”. Os debates vão girar em torno da importância do banco para a sociedade e dos prejuízos que a reestruturação pode causar ao caráter público da atuação do BB.
“O Banco do Brasil exerce papel fundamental para o desenvolvimento do país. Tem grande destaque no fomento do setor agropecuário, mas também em políticas voltadas às micro, pequena e médias empresas, à educação e à habitação. Se a reestruturação não levar isso em conta, toda a sociedade brasileira será prejudicada”, disse o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), Wagner Nascimento.
Conecef
Com o slogan “Todos contra o retrocesso”, o 35º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef), os debates terão como eixos a defesa da Caixa e dos bancos públicos; o combate à reestruturação e ao desmonte dos direitos; a defesa do Saúde Caixa, da Funcef e dos aposentados; e a defesa da Previdência, entre outros.
“O evento será fundamental para juntos tirarmos uma estratégia de defesa dos bancos públicos e de luta pela soberania nacional”, afirmou Sérgio Takemoto, secretário de Finanças da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e empregado do banco.
Aplicativos
O Comando Nacional dos Bancários desenvolveu aplicativos para dispositivos móveis (celulares e tablets) visando a otimização da circulação dos materiais, das publicações e dos informativos do congresso.
A iniciativa visa melhorar a utilização dos recursos da categoria e, com isso, ampliar a gama de informações às delegadas e aos delegados dos eventos programados.