Para o economista e professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislau Dowbor, as reformas neoliberais e as medidas de ajuste fiscal tomadas pelos governos Temer e Bolsonaro estão reduzindo a capacidade de consumo das famílias. A situação é agravada pelo endividamento generalizado, que deixa quase metade da população fora do mercado consumidor. O resultado, diz o professor, não poderia ser outro: o baixo crescimento econômico do país, os elevados índices de desemprego e o aumento da informalidade.
“Quando se reduziu a capacidade de consumo das famílias, a pretexto de reduzir o déficit, na verdade, travou-se também a capacidade de produção das empresas. O empresário diz assim: ‘Realmente está mais barato para contratar. Mas para que vou contratar, se não tenho para quem vender?'”, criticou Dowbor, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (4).
Segundo ele, medidas como as ditas “reformas” trabalhista e da Previdência têm o mesmo “denominador comum”, que é a redução da capacidade de consumo da população. A Lei do Teto, outra medida fiscalista, aos restringir os investimentos públicos em áreas como saúde e educação, também acaba comprometendo parte da renda das famílias, que são obrigadas a recorrer a, nestes casos, planos de saúde privados e escolas pagas.
Outro agravante, segundo Dowbor, são as taxas de juros que permanecem elevadas, tanto para o consumidor, quanto para os pequenos e médios empresários. “A cada ano, quando chega agosto ou setembro, dizem que no ano que vem vamos crescer 3%. Quando chega dezembro, vamos crescer 2,5%. Em março, vamos crescer 1%. E a gente termina crescendo 0,8%. Estamos parados, porque não tem para quem vender, não tem como se financiar. A coisa não funciona”, afirma o economista.
Solução
Para o professor da PUC-SP, a saída passa pela adoção de políticas de estímulo ao consumo das famílias, como a valorização do salário mínimo e o fortalecimento de programas de transferência de renda como o Bolsa Família. Com medidas como essas, as empresas passam a contratar.
O passo seguinte, explica, é que com o crescimento da produção e do consumo, as receitas do Estado também se elevam, por conta da arrecadação com impostos e tributos e pode, então, investir em infraestrutura e políticas sociais, que melhoram a eficiência das empresas e reduzem os gastos das famílias, ensejando um ciclo de crescimento.
Com o emprego sem carteira e o trabalho autônomo crescendo acima da formalização, a taxa de desemprego ficou em 11,2% no trimestre encerrado em janeiro, segundo informou o IBGE nesta sexta-feira (28), abaixo de outubro (11,6%) e de janeiro do ano passado (12%). O número de desempregados foi estimado em 11,913 milhões. A desistência de procurar emprego também ajudou a reduzir a taxa.
De acordo com o instituto, são menos 453 mil desempregados no trimestre (-3,7%) e menos 712 mil em 12 meses (-5,6%). Estável no trimestre, o total de ocupados cresceu 2% em um ano e chegou a 94,151 milhões.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua – apesar do pequeno recuou na taxa de desemprego – seguem apontando para um alto índice de informalidade, que atinge 40,7% dos ocupados – são 38,3 milhões de trabalhadores informais. Esse índice se mantém praticamente inalterado: foi de 41,2% no trimestre encerrado em outubro e de 41% há um ano.
Desalento atinge 4,7 milhões
Em 12 meses, o número de empregados com carteira no setor privado cresce 2,6%, com acréscimo de 845 mil, para um total de 33,711 milhões. Mas o total de empregados sem carteira aumenta mais, 3,7% (419 mil), e chega a 11,673 milhões. E os trabalhadores por conta própria somam 24,575 milhões, alta de 3,1% – mais 745 mil. Assim, o trabalho informal segue aumentando mais do que o formal.
Segundo o IBGE, a chamada subutilização da força de trabalho, que inclui pessoas que gostariam de trabalhar mais, inclui 23,2% do total. São 26,390 milhões nessa situação. E os desalentados – aqueles que desistiram de procurar emprego – atingem 4,698 milhões, praticamente estável no trimestre e pouco acima de janeiro do ano passado. São 4,2% do total, o que também ajuda a reduzir a taxa média de desemprego.
Estimado em R$ 2.361, o rendimento médio ficou estável tanto na comparação trimestral como na anual. O mesmo acontece com a massa de rendimentos, que atinge R$ 217,4 bilhões.
A situação dos jovens no mercado de trabalho precisa de medidas que incluam “oportunidades de trabalho seguro e decente, formação profissional e boas condições para a formação”, o que não é o caso da Medida Provisória que trata do contrato de trabalho verde e amarelo, a MP 905.
Na avaliação do Dieese, a geração de empregos será muito pequena. “A solução proposta não enfrenta o problema da oferta de mão de obra, os custos serão maiores do que outras alternativas possíveis e o financiamento recairá sobre desempregados e a Previdência Social”, resume o instituto, em nota técnica.
“Um debate mais esclarecido sobre esse problema poderia ter a coragem de colocar a questão da profissionalização e da qualificação profissional na perspectiva de um futuro do trabalho que exigirá cada vez mais educação e conhecimento”, afirma o Dieese.
“Se o Estado está disposto a investir tantos bilhões nos jovens, o que é meritório, por que não destinar tais recursos à permanência da juventude nos bancos escolares e no ensino profissionalizante? Os interesses econômicos imediatos dos empresários não deveriam estar à frente de objetivos realmente alinhados com os desafios do futuro”, acrescenta o instituto.
Medidas radicais
Na nota, o Dieese aponta a “substancial desoneração” concedida aos empresários, com o objetivo anunciado de atrair interesse para a contratação de jovens, além de “medidas ainda mais radicais” contidas na MP 905 para alterar a legislação trabalhista.
“Permitir irrestritamente o trabalho em domingos e feriados poderá ser contraproducente, pois não gera empregos e reduz a renda dos trabalhadores. O aumento da jornada dos bancários é outra medida que caminha no sentido contrário da geração de empregos pela redução da jornada.” E acrescenta que o sindicato, em geral, “perde ainda mais prerrogativas enquanto os empresários se fortalecem”.
O instituto lembra ainda, passados três anos, que a chamada “reforma” trabalhista, materializada na Lei 13.467, “não surtiu os efeitos positivos que foram alardeados na época em que ela foi aprovada”. Ao contrário: “O alto desemprego, a enorme subutilização, o gritante desalento e a relutante estagnação dos salários abonam a previsão de que o enfraquecimento da proteção ao trabalho não geraria empregos nem melhoraria as condições de vida da maioria da população”.
Para o Dieese, o relator aprofundou as mudanças já profundas da “reforma” trabalhista. O instituto chama a MP de “bolsa patrão”.
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado realizou nesta segunda-feira (2) uma audiência pública para debater sobre o “Relatório da Medida Provisória 905/2019”, que trata do Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, que aprofunda a reforma trabalhista ao modificar diversos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), retirando direitos dos trabalhadores e afetando diretamente a categoria bancária.
“Fomos surpreendidos por uma medida provisória que ataca diretamente o contrato de trabalho dos bancários e atende os interesses dos bancos, que são os mais rentáveis do mundo”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “Mesmo com a economia brasileira parada, os cinco maiores bancos do país lucraram R$ 108 bilhões em 2019, 30,3% a mais do que no ano anterior. Eles não precisam de uma medida provisória para atender seus interesses e prejudicar os trabalhadores”, criticou a presidenta da Contraf-CUT, ao lembrar que a medida provisória supostamente foi criada para gerar empregos, mas que na verdade, vai precarizar o trabalho.
Desrespeito às negociações
Juvandia criticou a tentativa do governo, mantida pelo relator, de desrespeitar as negociações feitas pelos sindicatos, como as realizadas nas negociações sobre o pagamento da Participação nos Lucros e/ou Resultados (PLR). “Como presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo tive a oportunidade de acompanhar as negociações sobre a PLR feita por comissões de empregados. Os trabalhadores eram indicados pelos próprios bancos. Eles não tinham estabilidade, não tinham condições de negociar os valores da PLR, que eram distribuídos de forma a beneficiar quem ganha mais, ao contrário do que acontece nas negociações feitas agora, pelos sindicatos”, disse Juvandia.
A presidenta da Contraf-CUT lembrou ainda dos benefícios das negociações. “Graças às nossas negociações, em 2018, com quatro itens de nossa Convenção Coletiva colocamos R$ 9,9 bilhões a mais no bolso dos bancários. Em 2019, foram R$ 10,5 bilhões a mais graças à nossa negociação com os bancos. Todos esses valores vão para a economia, por meio das contas e dos impostos que os bancários pagam. Eles querem aumentar ainda mais o lucro dos bancos, que ficam concentrados em no máximo 150 pessoas e viram capital especulativo. Não faz a economia girar, como faz os recursos que colocamos nos bolsos dos bancários com os termos negociados e firmados em nossa Convenção Coletiva. A MP desrespeita essa negociação coletiva”, disse a presidenta da Contraf-CUT.
Durante a audiência, Juvandia fez uma apresentação com diversos dados específicos sobre o setor bancário e, entre outros temas, ainda falou sobre a alteração da jornada dos bancários e desrespeito da MP 905 à democracia, alertando que o artigo 57 da MP, propõe que a isenção de impostos para a PLR e os vales refeição e alimentação precisará ser atestada por ato do Ministro de Estado da Economia. “Isso tira do Congresso a decisão sobre o orçamento”.
Redução da atuação dos bancos públicos
“Não é tirando direitos básicos das pessoas e fragilizando a contratação que nós vamos resolver o problema da geração de emprego”. Foi o que afirmou o presidente da Federação Nacional das Associações de Empregados (Fenae) da Caixa Econômica Federal, Jair Pedro Ferreira, durante sua apresentação na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do Senado.
Jair lembrou que, em um dispositivo, a medida retira dos bancos públicos o pagamento do seguro desemprego e do abono salarial. “Sabemos que isso vai afetar a capacidade de investimentos dos bancos públicos e as suas coberturas. Com essa MP, haverá um empobrecimento gigantesco da classe trabalhadora, em benefício de alguns setores empresariais. Nós na Fenae somos contrários a isso, fazemos um apelo aos deputados e senadores que votem contra essa medida provisória”, afirmou Ferreira.
Mau uso
Para o secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro (Índio), a MP905 traz intranquilidade, insegurança, desconforto e desgraça para a imensa maioria do povo brasileiro, em particular para os trabalhadores. “É inadmissível a gente ver o governo usar as cores da bandeira verde amarela para instalar um regime que acaba com os direitos trabalhistas, que acaba com a segurança e que, mais uma vez, desonera as empresas. Muitos governos já fizeram isso no passado, mas, antes, tirava dinheiro dos cofres públicos. Este governo tira diretamente do trabalhador mais pobre”, criticou Índio.
O secretário-geral da Intersindical ainda ironizou a afirmação feita pelo governo de que a MP 905 não retira nenhum direito. “Não. Não tira. Só que a contribuição patronal do fundo de garantia que era de 8% mensal cai para 2%; a multa do fundo de garantia, que o trabalhador recebe no momento da sua demissão, cai de 40% para 20%. Eles também tiram o salário-educação da folha de pagamento, que é muito importante para o financiamento da educação básica, tiram a contribuição de 0,2% que vai para o Incra, permite que as férias e o 13º sejam pagos em 12 vezes, durante o ano”, afirmou.
Índio, ainda disse que, em uma conta muito simples, sem rigor, para um trabalhador contratado por R$ 1.500, no modelo atual, teria que ser recolhido de fundo de garantia R$ 1.566 e, no caso de uma demissão, ainda teria a multa de 40%. Só de fundo de garantia o trabalhador receberia em torno de R$ 2.200. Segundo ele, com a carteira verde-amarela a empresa vai recolher 2%. Ao chegar no fim do deste ano, o trabalhador demitido pode receber R$ 400. “E pior, Bolsonaro, que se coloca como defensor do povo, queria cobrar uma taxa sobre o seguro desemprego dos desempregados”, lembrou.
O Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas realiza nesta semana uma série de atividades no Congresso Nacional para denunciar o processo de desmonte das estatais promovido pelo governo Bolsonaro. A partir desta terça-feira (3) até quinta (5) serão realizadas visitas às lideranças partidárias e parlamentares.
Nesta terça-feira, a partir das 13h, haverá uma reunião do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas no Congresso, na sala da liderança do PT no Senado. Em seguida, terão início as reuniões com parlamentares e lideranças partidárias.
Segundo a coordenadora do Comitê e representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, o objetivo é a dessa mobilização é debater leis e medidas provisórias relacionadas a projetos de privatização.
“Vamos para o Congresso dialogar, argumentar e defender nossas empresas e seus trabalhadores. Hoje a ameaça privatista atinge Petrobras, Casa da Moeda, bancos como Caixa e BB e muitas outras, colocando em risco a soberania do País, empregos e direitos trabalhistas”, destaca Rita Serrano, que também é diretora da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano.
Recentemente, o governo tentou passar por cima do Congresso para acelerar o ritmo das privatizações – o chamado fast track (via rápida), uma medida que poderia ser oficializada via decreto e dispensaria propor projeto de lei -, mas acabou recuando após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, declarar que seria ilegal.
“O governo tem pressa e precisamos de muita organização para reagir rapidamente. É muito importante ampliar esse debate e conquistar mais aliados em defesa das empresas públicas brasileiras”, explica Rita Serrano.
As entidades que desejarem participar das atividades no Congresso devem confirmar participação pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Polêmico desde antes de sua posse por seu comportamento racista, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, causou revolta mais uma vez ao retirar dos cargos da instituição personagens importantes e reconhecidos pelos anos de trabalho realizado em prol da cultura afro-brasileira. De acordo com ele, objetivo é montar uma nova equipe de extrema direita.
Entre os demitidos estão os responsáveis pela Diretoria de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileiroa (DEP), Clóvis André da Silva, pela Diretoria de proteção Afro-brasileira (DPA), Sionei Leão, e pelo Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (Cenirp), Kátia Martins.
Para Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), o presidente não representa a fundação, que tem como principal objetivo promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. “Ele representa a direita reacionária e escravocrata desse país. Ele é um serviçal do Bolsonaro e precisa ser combatido diariamente. Queremos que a Fundação Palmares volte as origens e valorize a cultura negra”, afirmou.
Em nota, a Fundação Cultural Palmares (FCP) afirmou que Sergio Camargo “no direito e exercício de sua função se organiza para trazer a sua equipe tendo como objetivo o cumprimento da missão institucional”.
Discurso racista
Essa não é a primeira vez que o presidente da Fundação Palmares causa polêmica. Em uma entrevista para a imprensa, Sergio Camargo afirmou que o Dia da Consciência Negra tem de acabar. Ele disse ainda que a data não é para o negro brasileiro e o que depender dele a Fundação Palmares não dará suporte algum a essa data.
Para Almir Aguiar, o discurso segue as diretrizes do governo em mais uma tentativa de enfraquecer a população negra “Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, decretando o fim da escravidão no Brasil. Na época o número de escravizados, era menor que o de negros livres, alforriados e refugiados nos quilombos, o império o estava sob pressão dos movimentos abolicionistas nacionais e da Inglaterra, mas a liberdade seria uma questão de tempo. Penso que essa data, é mais para reflexões e debates do que propriamente para grandes comemorações. Até porque está Lei só tinha dois artigos, e nada para proteger a população negra, que não teve direito a terras, moradia, educação, emprego, saúde, pelo contrário, eram proibidos de circular na cidade, eram proibidos de frequentar escolas públicas, e o que foi negado aos negros, ofereceram aos imigrantes brancos.
28 de fevereiro foi o Dia Internacional de Prevenção às Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort). Doenças desses tipos acometem trabalhadores de vários países do mundo não só pelos avanços tecnológicos, mas também pela cobrança abusiva de metas e pressão sobre os trabalhadores por desempenho. Neste quesito, a categoria bancária é uma das mais atingidas pelo adoecimento.
No Brasil, segundo dados do INSS, os bancários adoecem 150% vezes a mais que a população em geral em relação às LER/DORT. Entre 2012 e 2017, 24.514 afastaram-se por doenças relacionadas ao trabalho. Destes, 12.678 afastaram-se por tendinites, bursites ou lesões no túnel do Carpo, consideradas LER/DORT, o que representa 51,71% do total.
Para Mauro Salles, secretário de Saúde do Trabalhador da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), o aumento do número de bancários afastados por benefícios previdenciários nos últimos anos, nada mais é que o resultado de uma política de recursos humanos mais agressiva nas instituições financeiras. “As novas formas de controle visam motivar os trabalhadores para os lucros da empresa, seja através de incentivo financeiro, individualizando o salário, bem como transferindo para ele a gerência da rotina do seu dia-a-dia. No sentido de individualizar a remuneração, são concedidos prêmios por produtividade e, atrelados a eles, cobra-se o cumprimento de metas, e que, a cada dia, se tornam mais elevadas”, afirmou.
De acordo com nota técnica realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a incorporação de novas ferramentas de gestão, a forte pressão quanto ao tempo para atingirem seus resultados, o aumento do controle, o prolongamento da jornada e o aumento da competitividade trouxeram, por consequência, o maior adoecimento da categoria bancária. “As doenças por transtornos mentais, como estresse, síndrome do pânico, esquizofrenia e depressão, dificilmente são relacionadas e reconhecidas como doenças do trabalho e, mais como “corpo mole” daquelas pessoas acometidas por essas síndromes, preguiça, entre outros nomes pejorativos, o que por muitas vezes acaba em demissão do trabalhador”, afirma a nota.
Sobrecarga e redução de postos de trabalho
A redução nos postos de trabalho, aumento da carga horária e do volume de trabalho e a sobrecarga de trabalho também têm impacto direto nos números das LER/DORT entre os bancários e nos custos da doença no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com afastamentos, pensões e até mesmo aposentadorias.
A direção da Caixa está impondo aos empregados e empregadas uma reestruturação que desrespeita nossas carreiras, nossas vidas, e ataca a Caixa Pública.
Uma reestruturação apresentada via streaming, sem qualquer negociação com os trabalhadores, que estipulou o prazo de apenas três dias para que os empregados manifestassem sua “intenção de movimentação”, num processo seletivo de revalidação geral do quadro de empregados.
Como o banco não aceitou qualquer tipo de negociação com a representação dos trabalhadores, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) entrou com pedido liminar que garantiu 15 dias para inscrição no processo e forçou a direção do banco a fazer uma mesa para debater o tema.
Além disso a Contraf-CUT obteve ganho em ação que garante que não seja revogado o RH 151 para os empregados admitidos até 9/11/2017, a direção da Caixa tentou revogar com o debate da reforma trabalhista.
A liminar suspendeu a reestruturação até que “haja a realização de reunião e de tratativas no âmbito da Mesa Permanente de Negociação”, que ocorreu no dia 12/02/2020, concedendo o prazo de 15 dias a partir da conclusão da referida mesa. O novo prazo estabelecido vence nesta segunda-feira (2/3).
Pelo exposto orientamos aos Empregados:
1. A direção da Caixa sempre implementa reestruturação de cima para baixo. Desta vez, criaram um sistema que dá a impressão ao empregado de que ele tem direito de escolha. Por isso, antes de fazer qualquer opção, o ideal é procurar o jurídico do sindicato para que o caso seja avaliado;
2. Antes de fazer qualquer opção, é importante que você tenha a consciência de que a Caixa não esclareceu qual a consequência da opção por movimentação feita pelo próprio empregado no sistema criado pelo banco;
3. Caso o você queira fazer uma opção e o sistema apresente problemas, ele pode fotografar ou printar a tela da opção e enviar à Cepes12. Persistindo o problema, o empregado pode entrar em contato com o sindicato;
4. Caso você queira apenas manter local e função, acesse o sistema e faça sua opção;
5. Se for o caso de movimentação, não tendo problemas na transferência de local, opte para lateralidade (mantendo o salário) ou promoção (aumento salarial);
6. Caso haja apenas oferta de rebaixamento e você preencha os requisitos do RH 151 para manutenção da gratificação de função orienta-se que não faça opção, já que as chances de incorporação são altas caso a Caixa proceda a dispensa da função sem justo motivo. No caso de dúvida, reitera-se a importância de buscar orientação jurídica presencial junto ao sindicato de sua base;
7. Se houver apenas opções de transferências para localidades diferentes da que você tem interesse, dê print ou fotografe a tela e entre em contato com o sindicato para orientações;
8. A intenção de movimentação é o primeiro passo de um processo seletivo e de revalidação. Mas, o processo não acaba aí. É importante acompanhar as notícias nos sites do sindicato, da Contraf-CUT e da Fenae e manter-se em contato com as entidades;
9. A reestruturação está intimamente ligada à reforma administrativa que Paulo Guedes e Bolsonaro tentam aprovar no Congresso Nacional, inclusive com ameaças antidemocráticas. Estamos na defesa dos direitos dos empregados e da Caixa 100% Pública, prontos a defender a democracia e nossos direitos. É importante que todos se mantenham mobilizados;
10. Próximos passos: Dia 10/03 – Consultas e assembleias nos locais de trabalho prepararão os empregados para o dia 18/03, Dia Nacional de Luta, com possibilidade de paralisações em defesa da soberania, dos direitos e da democracia.
“É um inadmissível que o banco, que está com o primeiro processo suspenso, abra uma nova reestruturação – também com os prazos curtos – e ainda divulgue as metas dos novos cargos que nem foram assumidos pelos empregados. E tudo isso sem nenhuma negociação com a representação dos trabalhadores”, criticou Dionísio Reis, coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa).
A Medida Provisória (MP) nº 905, da Carteira Verde e Amarela, criada pelo ministro da Economia, o banqueiro, Paulo Guedes, com o aval de Jair Bolsonaro (sem partido), retira diversos direitos trabalhistas e traz, entre outras maldades, a liberação do trabalho aos domingos em todos os setores.
Apesar de algumas mudanças no texto original do governo, o relator da MP, deputado Christino Aureo (PP/RJ), aprovou que, nos setores de comércio e serviços, o descanso semanal deverá coincidir com o domingo pelo menos uma vez a cada quatro semanas. Para indústria, agricultura, pesca e demais setores, uma vez a cada sete semanas. O texto do relator ainda deverá passar por votação na Câmara dos Deputados.
A professora de economia da Universidade de São Paulo (USP), Leda Paulani, critica a liberação do trabalho aos domingos. Segundo ela, a medida não trará nenhum benefício para a economia do país, somente a perda de direitos.
Para ela, a MP da Carteira Verde e Amarela, é mais uma etapa de implantação da cartilha neoliberal do atual governo, que tem como projeto a flexibilização e perdas de direitos trabalhistas, pois não tem nenhum impacto positivo na economia.
“O efeito sobre a recuperação econômica é zero. O problema dessa crise é a falta de demanda. Não adianta incentivar o consumo abrindo o comércio aos domingos, como já vem sendo feito, se os trabalhadores não têm dinheiro para consumir, nem mesmo empregos, já que estamos num momento em que há fábricas demitindo e outras optando por férias coletivas”, diz a professora de economia.
Segundo Paulani, numa crise financeira em que os investimentos privados estão em baixa, é o investimento público que deveria ser utilizado para fazer a economia girar e ser sustentável.
“Não adianta querer estimular a economia, sem permitir um crescimento sustentável. E com o clima de incertezas no Brasil e no mundo, é preciso um programa de investimentos públicos, como o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. Mas, com essa filosofia ultra liberal de Guedes não tem jeito do país investir ”, critica.
A razão da letargia da economia é a falta de investimento público e, sem ele, se aprofunda a desigualdade social
Leda Paulani
A mesma visão de que a Carteira Verde e Amarela não impulsionará a economia tem Ana Luiza Matos de Oliveira, professora de economia da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (FLACSO) .
De acordo com ela, as pessoas têm por hábito organizar suas atividades conforme as regras estabelecidas e, por isso, elas podem até realizar suas atividades econômicas, como pagar contas, ou fazer compras aos domingos, mas isto não significa que irão consumir mais.
Ana Luiza que também estudou em Genebra, na Suíça, conta que lá os supermercados não abrem aos domingos e as pessoas se organizam para fazer suas compras em outro dia da semana.
“O trabalho aos domingos não vai gerar aumento da atividade econômica. A MP do governo vai apenas beneficiar os donos das grandes fábricas e indústrias, que, com certeza, não vão trabalhar aos domingos”, critica.
Relações familiares e sociais devem mudar com trabalho aos domingos
Ana Luiza, que também é doutora em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Pesquisa Econômica da Unicamp, afirma que o trabalho aos domingos impõe uma nova forma de sociabilidade.
“É este tipo de sociedade que queremos viver, em que todos trabalhem aos domingos , ao invés de ficar com a família, fazer algum hobby e ter oportunidade de lazer com os amigos?”, questiona.
A economista afirma ainda que o trabalho está tomando conta da gente, e a sociedade brasileira precisa se perguntar se quer abrir mão do descanso aos finais de semana.
Ela lembra que este é um tema que vem sendo questionado em diversos países do mundo, como bem demonstrou, segundo ela, o documentário vencedor do Oscar, deste ano, “ Indústria Americana” (Netflix), que mostra o conflito dentro de uma fábrica nos Estados Unidos, comprada por chineses, que reclamavam que os norte-americanos “folgavam muito” , além de dizerem que na China, os trabalhadores locais têm dois empregos e poucas folgas.
Em nome de uma suposta competitividade está se reduzindo padrões mínimos de sociabilidade. Mas, é possível se organizar para que todos tenham direito ao tempo livre com suas famílias. Para isso, os trabalhadores daqui e em todo mundo precisam se unir
Convocado pela CUT e demais Centrais sindicais, o 18 de março será um dia de mobilizações nos locais de trabalho, paralisações e atos nas principais capitais e nas cidades do interior do país.