Maio 20, 2025
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A Oxfam Brasil mostra que a pandemia de coronavírus ampliou a desigualdade econômica global. Enquanto 400 milhões de trabalhadores perderam o emprego, as 32 empresas mais lucrativas do mundo conseguiram se blindar das consequências econômicas da covid-19 e aumentaram o lucro em até R$ 577 bilhões a mais em 2020, considerando o período da pandemia em relação aos anos anteriores.

O relatório “Poder, Lucros e Pandemia” da entidade revela que, como muitos dos bilionários do mundo também são alguns dos maiores acionistas dessas empresas, a fortuna dos 25 mais ricos aumentou em R$ 1,3 trilhão, só entre meados de março e final de maio.

Em contrapartida, essas empresas não compensaram esse aumento em seus lucros pagando mais impostos ou ampliando atividades filantrópicas e doações. De acordo com a estimativa da Oxfam, as doações feitas pelas maiores empresas do mundo durante a pandemia da covid-19 representaram, em média, 0,32% da sua receita operacional em 2019.

O relatório aponta que se cobrasse uma tributação sobre esse lucro na pandemia, o valor cobriria todos os custos de testagem e produção de vacinas para todas as pessoas do planeta. “Um imposto sobre lucros durante a pandemia, no estilo do adotado durante a Segunda Guerra Mundial, geraria bilhões de dólares. Considerando apenas as 32 empresas globais que mais estão lucrando com o coronavírus, estima-se que poderiam ser geradas receitas de R$ 551 bilhões, em 2020, para fazer frente ao vírus.”

Distribuição de lucros

Para a Oxfam, a distribuição excessiva de lucros e dividendos a acionistas, antes da crise, deixou empresas, trabalhadores e governos vulneráveis ao choque da pandemia. Ou seja, uma reserva financeira protegeria empregos e ajustaria modelos de negócios.

Os acionistas ainda mantiveram esse repasse de lucros após a eclosão da pandemia. A entidade levantou os relatórios financeiros das empresas Microsoft e Google, que distribuíram mais de R$ 111 bilhões e R$ 79 bilhões aos seus acionistas, respectivamente.

O fundador da Amazon, Jeff Bezos, aumentou seu patrimônio líquido em R$ 69 bilhões, em apenas um dia, durante a pandemia. Apesar da crise econômica mundial, ele aumentou sua fortuna de R$ 392 bilhões para um pouco mais de R$ 1 trilhão, apenas em 2020.

Levantamento da Oxfam mostra que Bezos poderia pagar a cada um de seus 876 mil funcionários da Amazon um bônus de mais de R$ 530 mil, e ainda seria tão rico quanto era antes da pandemia de covid-19.

Zero mudanças

Enquanto a pandemia provocou e incentivou novos modelos de negócios, a Oxfam alerta que poucas mudanças significativas estão sendo implementadas a partir dos escritórios dos executivos e “expõe a lacuna entre o compromisso e prática”.

Em mais de 100 casos em todo o mundo, as empresas continuam distribuindo lucros e dividendos a acionistas, mantêm programas de remuneração de executivos e continuam a demitir trabalhadores. Além disso, fazem lobby junto a governos pela desregulação de proteções ambientais, fiscais e sociais.

“A discrepância observada nos impactos econômicos da covid-19 não é resultado do acaso, e sim de um modelo econômico que gera lucros para os ricos enquanto extrai valor de muitos. A pandemia não gerou as atuais injustiças econômicas, raciais e de gênero: ela as expôs e ampliou”, acrescenta o relatório.

Fonte: Contraf-CUT

O Comando Nacional d@s Bancári@s vai se reunir nesta quinta-feira (10) para avaliar a proposta sobre teletrabalho feita pelo banco Bradesco. A reunião faz parte da negociação que começa a ser feita com alguns bancos sobre o home office.

Na nova Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) ficou definido que todos os direitos previstos por dois anos também valem para os trabalhadores que estiverem em teletrabalho. O compromisso de que quem está em teletrabalho hoje permanecerá enquanto a pandemia perdurar.

Fonte: Contraf-CUT

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) encaminhou, nesta quarta-feira (9), um ofício à Caixa Econômica Federal para solicitar agilidade no processamento de inclusões dos empregados contratados após 31 de agosto de 2018 no Saúde Caixa.

A extensão das mesmas possibilidades de serviços e de atendimento, assim como a participação no custeio – o que unificará toda a base nacional de empregados da Caixa –, foi uma das principais conquistas das negociações referentes à renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da Caixa.

“A mobilização dos empregados assegurou no ACT garantias fundamentais aos usuários do Saúde Caixa, como a manutenção da proporção 70/30 no custeio e o caráter solidário do plano, além restabelecer a participação dos novos empregados. Agora, queremos que esta conquista tão importante seja efetivada”, disse Fabiana Uehara Proscholdt, coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/ Caixa) e secretária de Cultura da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Fonte: Contraf-CUT

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) encaminhou, nesta quarta-feira (9), um ofício à Caixa Econômica Federal solicitando a antecipação da parcela da Participação nos Lucros e/ou Resultados (PLR) e do pagamento do Abono Único, previsto na cláusula 61 do ACT Caixa.

Pelas regras definidas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e no Acordo Coletivo de Trabalho, o banco tem até 30 de setembro para efetuar o pagamento aos empregados. O acordo foi assinado na última sexta-feira (4).

“Essa antecipação seria uma forma de valorizar o trabalho de todos os colegas. Mas, de fato, o que a Caixa precisa é dar condições dignas de trabalho pra quem está nas agências. Temos poucos empregados e a jornada é estafante, fora o risco de contrair o vírus ou de contaminar um familiar”, afirmou Fabiana Uehara Proscholdt, coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa) e secretária de Cultura da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Fonte: Contraf-CUT

A venda de uma carteira de crédito do Banco do Brasil, avaliada em R$ 2,9 bilhões, para o BTG Pactual por apenas R$ 371 milhões continua sendo notícia. Desta vez, foi pauta da Revista Fórum. Segundo a reportagem, um analista do mercado financeiro disse que a carteira tem potencial de recuperação de 70%. Além disso, a maior parte dela é composta por financiamentos imobiliários adquiridos por ex-funcionários do próprio BB, que deixaram o banco em PDVs nos anos 1990 e 2000. Em caso de inadimplência, imóveis podem ser tomados para quitar os empréstimos.

Segundo a Revista Fórum, “se a avaliação de 70% de recuperação feita por essa fonte se concretizar, o BTG vai receber R$ 2,03 bilhões ao final, ou R$ 1,659 bilhão a mais do que pagou pela carteira”.

Em nota à Fórum, o Banco do Brasil informou que “os créditos cedidos referem-se a operações que estavam inadimplentes, em média, há mais de seis anos. Do total, 98% já estava lançado em prejuízo e os 2% restantes contavam com provisões. Além disso, trata-se de um portfólio de operações ajuizadas, com processos judiciais iniciados há até 15 anos”.

“O BTG Pactual pagou pouco mais de 20% do que valia a carteira. Por si, isso já seria motivo de investigação. Se acrescentarmos a informação de que o BTG foi fundado por Paulo Guedes, a quem o BB está subordinado, e agora essa informação de que 70% da carteira pode ser recuperada, a situação fica ainda mais grave para os responsáveis pela transação”, ressaltou o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga.

Olho grande

A Revista Fórum diz ainda que a mesma fonte do mercado financeiro revelou que o BTG está de olho em outras duas carteiras de crédito do BB, de cerca de R$ 1,6 bilhão cada, que atualmente estão sob os ativos da Previ, o fundo de previdência dos funcionários do banco.

Questionamento

O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) fez uma série de questionamentos sobre a transação ao Banco do Brasil. No ofício ele pergunta, por exemplo, se o processo de cessão da carteira assegurava ampla concorrência. Quais tinham sido os critérios para a escolha do BTG para comprar a carteira. Qual a composição da referida carteira de crédito. Como foi atribuído o preço de venda. Por fim, ele pedia ainda o comparecimento do presidente do Banco do Brasil à Câmara para esclarecimentos.

Rubem Novaes deixou a presidência do banco, ao final de julho. As respostas ficaram então só por conta do ofício. “Mas, algumas foram bem evasivas… Na nossa avaliação, elas deixaram muitas lacunas sem responder”, considera o deputado.

Por exemplo: o BB diz que o preço da carteira foi fixado usando “ferramentas e práticas financeiras, incluindo referências apontadas pela consultoria que apoiou o banco”. Mas não explicitou quais referências seriam essas. Sobre a composição da carteira, o BB diz que 98% dela têm créditos de mais de R$ 500 mil “contabilizados como perdas há mais de cinco anos”. Não explica, contudo, a natureza desses empréstimos.

Se a fonte estiver certa e forem créditos imobiliários, o valor de R$ 500 mil ou mais por empréstimo faz sentido.

Por considerar que os dados passados pelo BB estão vagos, o deputado do Rio protocolou um segundo requerimento de informações, mais detalhado, pedindo os laudos e documentos de avaliação que a consultoria fez, a composição mais detalhada da carteira vendida, quem é a instância responsável por aprovar esse negócio no banco, se o BB será ressarcido das despesas de cobrança dos empréstimos que estão nessa carteira vendida, entre outros dados bem específicos. Para evitar respostas vagas.

Fonte: Contraf-CUT

Os bancários do Itaú se reúnem com a direção do banco, nesta quinta-feira (10), às 14h30, para definir o calendário de negociações para discutir emprego, retorno ao trabalho e banco de horas. “Com o final da Campanha Nacional, da qual saímos vitoriosos, podemos voltar a debater as demandas específicas com o banco”, explicou Jair Alves, coordenador da Comissão de Organização dos Empregados do Itaú (COE Itaú).

Em agosto, em meio a Campanha, o Itaú atendeu duas reivindicações dos trabalhadores: extensão do home office até o final de janeiro 2021 e a reabertura de agências para diminuir o fluxo pessoas nos locais. Porém, agora o movimento sindical quer formalizar como ficarão essas questões no início do próximo ano.

Na tarde desta quarta-feira (9), a COE se reúne, por videoconferência, para se preparar para a negociação de amanhã.

Fonte: Contraf-CUT

No único momento presencial da campanha, representantes de bancários e banqueiros assinaram, na última sexta-feira (4), o acordo coletivo da categoria, incluindo aditivos com os bancos públicos. O documento é válido por dois anos, até 31 de agosto de 2022. Mas nem mesmo o ato de assinatura, em um hotel de São Paulo, foi tranquilo: redação diferente do negociado em alguns itens prolongaram o encontro até as 22h, encerrando, enfim, uma jornada que consumiu 44 dias e 15 rodadas de negociação.

As conversas madrugada adentro já são características das campanhas dos bancários. Mas foi uma campanha atípica pelo seu formato. Devido à pandemia, tudo foi virtual, desde a conferência que aprovou a pauta de reivindicações, ainda em julho. Mas o desafio também mostrou possibilidades e pode ter apontado caminhos para as próximas negociações coletivas.

Um dado a se ressaltar é o da presença de trabalhadores nas assembleias virtuais. Em torno de 120 mil participaram das assembleias finais, que avaliaram e aprovaram a proposta de acordo dos bancários. Na consulta para preparação da pauta e prioridades, já tinham sido 30 mil respostas – até 10 vezes uma quadra lotada na base do sindicato de São Paulo, por exemplo. Até então, a maior parte das respostas era no papel. “Não perdemos representatividade. A gente inovou e encontrou forma de continuar dialogando com os trabalhadores”, observa a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.

Participação superou resistência

Ela avalia, inclusive, que essa presença expressiva de bancários nas assembleias, em numero maior que nas presenciais, foi decisiva para dobrar a resistência empresarial. “Foi aí que eles começaram a recuar.” Os bancos só admitiam conceder abono, sem incorporação aos salários. “Eles não queriam dar reajuste, essa que é a verdade. Os bancários reagiram, e isso foi muito importante. O banco internamente tem como medir (a insatisfação dos empregados)”, diz Juvandia.

Ela lembra que, no início, a bancada patronal queria, inclusive, retirar direitos do acordo coletivo. Além de mexer nas regras para cálculo da participação nos lucros ou resultados (PLR). Talvez apostando em uma “desmobilização” devido à pandemia.

O acordo fechado – que envolve mais de 450 mil bancários – prevê, neste ano, reajuste de 1,5% e abono no valor de R$ 2 mil. Para 2021, reajuste com base na inflação acumulada e aumento real de 0,5%. Itens como vales alimentação e refeição também tiveram e terão aumento.

Nova cultura

Do lado dos dirigentes sindicais bancários, o cenário exigiu também uma preparação específica. “A gente teve que criar ferramentas, uma nova cultura”, comenta a presidenta da Contraf-CUT. Foram montadas, por exemplo, duas turmas para cursos sobre redes sociais. Para a organização sindical, foi aberto um novo caminho, acredita Juvandia. “O teletrabalho veio e vai ficar. O local de trabalho é a casa do bancário, a gente vai ter que continuar dialogando com ele.” Mas ela observa que esse trabalho de aproximação nunca deixou de ser feito, com visitas constantes ao locais de trabalho.

Este foi um ano de negociação incessante. Começou, a rigor, desde a decretação da pandemia, seis meses atrás, em 12 de março. Discussões sobre condições de trabalho e saúde e segurança para funcionários e clientes. Medidas como compra coletiva de álcool em gel e máscaras: “Desde antes de ser obrigatória a gente cobrava”. E com a economia em queda livre.

Assim, foram vários fatores que desafiavam qualquer negociação coletiva: governo avesso a diálogo, desemprego, PIB encolhendo , insegurança. “(O governo) deveria estar fazendo o contrário, aumentar os gastos públicos. Essa receita é de encolhimento do Estado, é receita burra”, critica Juvandia. Mas ela não aponta o Executivo como principal motivo para as dificuldades encontradas na mesa única, e virtual, de negociação.

“Eu não diria que foi o governo. O governo foi mais um fator”, diz, apontando dificuldades impostas em outras negociações, como a dos Correios e da Petrobras. Porém, especificamente no setor público, o principal empecilho estava na Caixa Econômica Federal, especificamente no item plano de saúde, uma tema sensível, que acabou encontrando meio-termo.

Acordo dos bancários põe R$ 8 bi na economia

Outro item de destaque é o do home office, que continuará sendo discutido individualmente. “O debate na mesa foi muito importante. Tinha banco que achava que o bancário devia devolver alguma coisa. Conseguimos mostrar que eles economizaram e os bancários aumentaram seus gastos, não tinha nada que devolver”, comenta Juvandia. “Acho que a gente ganhou o debate mostrando, por A mais B, que havia um aumento de custos do trabalhador.” Mas o setor segue se negando a discutir cláusulas de garantia de emprego.

Ela enfatiza a importância desse acordo não só para o trabalhador bancário, mas para o próprio país. Apenas quatro itens – , PLR, reajuste, abono e benefícios – vão representar impacto de R$ 8 bilhões na economia. Só com o abono de R$ 2 mil, são mais de R$ 900 milhões. “Quando uma categoria dessas ganha, a sociedade ganha”, afirma.

Edição: Paulo Donizetti de Souza

Fonte: Rede Brasil Atual

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) encaminhou, nesta terça-feira (8), um ofício ao Banco do Brasil solicitando a antecipação da parcela da Participação nos lucros e/ou Resultados (PLR).

Pelas regras definidas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), o banco tem até 10 dias úteis após a assinatura do acordo para efetuar o pagamento aos funcionários, mas o banco costuma pagar a PLR no mesmo dia em que é feita a distribuição dos dividendos do lucro aos seus acionistas. O acordo foi assinado na sexta-feira (4).

“Neste tempo de pandemia é importante que as pessoas tenham acesso ao dinheiro o mais rápido possível”, disse o coordenador da Comissão de Empresa dos funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga. “Esperamos que o banco atenda nossa reivindicação”, completou.

Fonte: Contraf-CUT

Apesar de a indústria brasileira estar em franco declínio e o desemprego em patamares negativos assustadores, o que deveria preocupar os empresários, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem apoiado o governo de Jair Bolsonaro desde sempre. A entidade publicou em seu site uma pesquisa segundo a qual, em agosto, o índice de confiança no setor vinha crescendo. “Empresários de todos os setores estão confiantes”, diz a entidade, apesar de não haver nenhum sinal de plano governamental que aponte para a retomada do crescimento.

A própria CNI constata, em outra publicação, que a indústria do país está em trajetória de queda desde 2009. “Com a nova retração em 2019, a indústria nacional mantém perda de relevância no cenário global e passa a ocupar a 16ª posição”, diz a entidade.

Como se explica tal contradição? “Você acha que eles vão deixar de apoiar o governo porque a indústria está numa situação ruim? Não há uma relação de uma coisa com a outra”, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. “Não é absurdo, é da vida contemporânea. Eles se agarram ao que corresponde mais à ideologia deles. As pessoas agem contra o que seriam os seus interesses.”

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, que episodicamente é dado como praticamente fora do governo, continua apoiado pelo mercado, embora o país esteja “uma lambança, uma desorganização, uma confusão”, na avaliação do economista.

“A aposta deles (do mercado) é nas reformas e no Paulo Guedes, e eles acabam tolerando algumas violações”, diz Belluzzo. Para ele, o teto de gastos, instituído ainda no governo de Michel Temer, é “insustentável”. “É uma das ideias mais esdrúxulas que eu já vi.”

E a agenda de Paulo Guedes segue no Congresso Nacional, com apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “O Maia parece que é preparado, mas é despreparado. Ele está sempre com essas posturas e atitudes liberaloides, e o país está à deriva”, constata o economista.

Insensível à crise econômica e no mercado de trabalho, a ideia do governo de instituir a carteira de trabalho verde e amarela continua em pé. Embora a Medida Provisória 955/20, que criava o contrato instituindo a “novidade”, tenha perdido a validade em agosto, Bolsonaro já afirmou que vai apresentar um novo texto.

Na opinião de Belluzzo, a ideia do governo é mais do que uma forma de se dispensar as empresas de respeitar os direitos dos trabalhadores, já que a proposta cria legalmente o salário por hora. “É muito grave, porque vamos retornar ao regime de contrato de trabalho anterior à revolução industrial, o regime do putting-out, em que você pagava por hora, ou por peça etc. Ou seja, você está dissolvendo as relações salariais”, afirma o economista, em entrevista à RBA.

O mercado parece que continua apostando em Paulo Guedes, embora sempre tenha o boato de que ele pode cair a qualquer momento…

O mercado está apostando em qualquer coisa. E não é porque Paulo Guedes vai ter umas derrotas que vai sair. Ele vai tentar ficar o tempo inteiro. Eles acabaram de retirar (o pedido de urgência) da reforma tributária da Câmara. Está tudo uma lambança, tudo uma desorganização, uma confusão. E ele está brigando com o Maia. O fato é que o país está à deriva.

Eles podem brigar, mas Rodrigo Maia continua apoiando a agenda de Paulo Guedes, não é?

O Maia parece que é preparado, mas é despreparado. Ele está sempre com essas posturas e atitudes liberaloides, mas o país está à deriva, e todas essas reformas, e a maneira como estão propostas, não vão chegar a lugar nenhum. Não têm nada a ver com a possibilidade de recuperar o crescimento.

Segundo analistas políticos, o mercado é que tem sustentado o governo e Paulo Guedes. Ou seja, a situação de sustentação continua…

Sim, e eles estão tolerando inclusive claras violações do regime orçamentário. Mas o mercado é assim. A forma de coordenação da economia e de controle está no mercado financeiro, estruturalmente. Se as pessoas não sabem isso, não dá para entender nada. Mas eles exercem esse poder de uma maneira muito peculiar. A aposta deles é nas reformas e no Paulo Guedes, e eles acabam tolerando algumas violações, porque preferem observar as violações, não fazer nada e continuar apoiando.

Violações de que tipo?

Violações das regras que eles considerariam adequadas para a gestão fiscal, por exemplo. Vai ocorrer um momento em que o teto de gastos vai ser violado, porque é impossível cumprir, é insustentável. É uma das ideias mais esdrúxulas que eu já vi. Aliás, a reforma da Previdência era apresentada como a bala de prata das reformas que ele estava pretendendo. O que aconteceu? Teve reforma da Previdência e não aconteceu nada.

Só perda de direitos…

Sim, só isso. Agora querem o projeto de lei que estabelece a carteira de trabalho verde e amarela. O que é isso? Salário por hora, que também é uma forma de você dispensar as empresas de respeitar os direitos dos trabalhadores. É muito grave o salário por hora, porque vamos retornar ao regime de contrato de trabalho anterior à revolução industrial, o regime do putting-out, em que você pagava por hora, ou por peça etc. Ou seja, você está dissolvendo as relações salariais. E o efeito disso sobre a economia vai ser muito grave. Porque vai deprimir violentamente o poder de compra da massa de trabalhadores.

Fora que a indústria está cada dia pior, mais deprimida…

Sim, claro. E agora a CNI se deu conta de que o Brasil está caindo no ranking dos países em desenvolvimento. No final dos anos 1970, era o país mais industrializado entre eles e ocupava entre a quinta e a sexta posição no ranking global.

Não é curioso que a CNI tem apoiado o governo desde sempre?

É isso. E você acha que eles vão deixar de apoiar o governo porque a indústria está numa situação ruim? Não há uma relação de uma coisa com a outra. As pessoas pensam que tem, mas não tem. São os paradoxos da vida social brasileira. Os industriais e a indústria estão se ferrando, mas os industriais continuam apoiando o governo que está ferrando a indústria.

Como se explica esse absurdo?

Não é absurdo, é da vida contemporânea. Eles se agarram ao que corresponde mais à ideologia deles. As pessoas agem contra o que seriam os seus interesses.

Mas os industriais não estão ganhando em aplicações no mercado financeiro, em vez de investir na produção?

Sim, mas isso é assim em todo lugar do mundo. Tirando a China, as empresas industriais viraram propiciadoras de ganhos financeiros. No mundo inteiro, e no Brasil é assim também. E eles não têm espírito de corpo, espírito de classe. Não existe aqui uma corrente industrialista como já existiu no Brasil. Existiam industriais que eram comprometidos com o projeto da industrialização. Partindo do Roberto Simonsen, indo até Antônio Ermírio de Moraes. Mas essa turma acabou.

Conservadores, mas industrialistas…

Sim, conservadores mas industrialistas. Perfeitamente, é isso mesmo.

O que achou da proposta de reforma administrativa?

Acho que está muito confusa, estão tentando preservar os militares. Vai ser difícil incluir a magistratura, o Judiciário nisso, que vai apresentar sua própria reforma, e eles são muito cientes das suas prerrogativas. Vai acabar afetando fundamentalmente a faixa de menor renda do funcionalismo, porque o resto vai resistir muito, como já está ficando claro.

A reforma administrativa que tinha que fazer é pensar numa arquitetura institucional entre o governo, os bancos públicos, as empresas públicas. Mas isso não passa… Aliás, você já ouviu a palavra “indústria” da boca de algum dos membros da equipe econômica? Eles nunca pronunciaram essa palavra, porque isso não está no horizonte deles. Não sabem exatamente o que significa isso. Eles estão falando de tudo, menos da indústria.

 

A ex-presidenta da Associação dos Bancários Aposentados de São Paulo (Abaesp), Maria da Glória Abdo, morreu neste domingo (6) na capital paulista, aos 81 anos, depois de anos de luta contra um câncer. Glória militou no movimento sindical bancário durante toda sua trajetória profissional no setor, iniciada após ingressar por concurso na Caixa Econômica estadual. O banco de fomento fundado no início do século passado virou banco múltiplo em 1990, transformado em Nossa Caixa. Em 2008, foi adquirido pelo Banco do Brasil. Com o negócio, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou a privatização do banco estadual.

Os aposentados da antiga Nossa Caixa tinham em Glória Abdo uma referência. Fosse em campanhas em defesa da população idosa ou contra ataques a direitos de trabalhadores, da ativa e aposentados – tanto nos governos neoliberais dos anos 1990 quanto no pós-golpe de 2016. Glória gostava de conversar, de namorar e festejar. Toda última sexta-feira do mês reunia companheiros de sua geração no baile dos aniversariantes do mês. Na Abaesp, ficava brava quando frequentadores afoitos passavam da hora de fechar o salão, 18h. Mas ficava feliz quando os mais jovens do sindicato, vizinho à associação, na Rua São Bento, pediam emprestada a mesa de sinuca para depois do expediente.

O movimento bancário foi passaporte para a luta política. Nascida em dezembro de 1938 em Ponta Porã (MS), Glória Abdo radicou-se em São Paulo em 1960. Ingressou no banco por concurso e lá se aposentaria três décadas depois. Começou a trabalhar em 1964 no prédio da Rua 15 de Novembro, no Centro Velho. Filiada ao Partido Comunista Brasileiro, o antigo PCB, em 1980 esteve entre os primeiros integrantes do recém-fundado Partido dos Trabalhadores. Feminista e socialista, Glória combinou ativismo político com a criação de duas filhas nascidas de “produção independente”.

 

Melhor idade?

Para a ex-bancária, ter sido mãe solteira por duas vezes, uma em 1967 outra em 1980, era motivo de orgulho. Adorava ser mãe e avó. E com o decorrer do tempo, a militância sindical no ramo financeiro foi ficando pequena para sua inquietude. Achava que os sindicatos podiam usar sua representatividade para influenciar a vida dos trabalhadores também fora de seus locais de trabalho. Como cidadãos. Foi, portanto, também pioneira do conceito de sindicato cidadão que marcou a reinvenção do movimento trabalhista após a redemocratização.

Em entrevista ao site do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Glória observava: “Este sindicato é um sindicato que nós podemos chamar cidadão, porque se envolve não só nas questões salariais dos bancários como também se envolve nos assuntos da cidadania e da democracia. Foi um dos que mais lutou contra a ditadura e luta ainda hoje contra este governo que está aí, de uma pessoa que não tem capacidade de governar“. Assista:

Inquieta

Maria da Glória Abdo fez da Associação dos Bancários Aposentados um ponto de referência da luta em defesa da população idosa. Convidada a ajudar a organizar esse segmento dos trabalhadores nos anos 1990 – por Gilmar Carneiro, então presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo – ela construiu um grande capital político e humano. Abominava a expressão “melhor idade”, eufemismo usado pelo marketing para amenizar o momento mais delicado da vida das pessoas, justamente quando passam a ingressar numa rotina de fragilidade física, intelectual e social.

“Melhor idade?! Melhor idade é quando você passa na frente de uma
construção e te assobiam. Isso sim é melhor idade. Atualmente não estão
assobiando para mim, mas vão voltar a assobiar, ah, se vão…”, disse numa entrevista concedida à revista digital Longeviver. Glória fala também sobre seu engajamento na causa dos idosos em âmbito local (moradia e lazer) e federal – batalha por formulação de políticas públicas. E também nas causas das mulheres, dos jovens e da inquietude contra as injustiças que marcou sua vida.

“Perdemos uma das pessoas mais lutadoras que conheci. Fica a saudade e o bom exemplo de dignidade”, disse o ex-deputado e ex-ministro nos governos de Lula e Dilma, Ricardo Berzoini, ex-presidente do sindicato. “Lembrarei de você sempre de duas formas : incansável na luta por igualdade social e livre. Como a Glorinha era livre!!! Uma mulher sem amarraras”, escreveu a atual presidenta da entidade, Ivone Silva.


Nota do Sindicato dos Bancários de S. Paulo, Osasco e Região

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região lamenta profundamente a morte, ocorrida na madrugada de domingo 6, de Maria da Glória Abdo, Glorinha dos aposentados.

A despedida será no Velório Tatuapé (Rua David Zeiger, 330), Quarta Parada, das 14h às 17h.

Legado para o movimento sindical e social

Muito querida por todos do movimento sindical e social, Glorinha foi bancária da extinta Nossa Caixa e ainda lá, na década de 1970, liderou a luta das funcionárias pelo direito a creche, que futuramente inspirou o auxilio creche/babá, conquistado e adicionado à CCT (Convenção Coletiva de Trabalho), em 1981.

“Conhecemos a Glorinha, em 1976. Naquele ano, entraram dois mil bancários. Éramos uma molecada cheia de gás e com muita vontade de lutar e ela nos acolheu de pronto. Fazíamos um jornal clandestino chamado de ” O Reunião” e esse jornal era a voz dos funcionários contra a direita do banco. Muitas vezes, nos reunimos na casa da Glorinha para definir e escrever o conteúdo do jornal. Nunca teve ou demonstrou medo. Corajosa, combativa e sincera, foi uma das pessoas mais engajadas na luta da categoria bancária. Não só das mulheres, mas de todos”, lembra Antonio Saboia, diretor do Sindicato e amigo de Glorinha.

Aposentados

 Glorinha também foi presidente da Abaesp (Associação dos Bancários Aposentados de São Paulo) e durante sua gestão (2013 – 2017), foi grande batalhadora pelos direitos da classe trabalhadora, em particular dos aposentados, defendeu a regulamentação da profissão de cuidador de idosos e debateu sobre políticas para pessoas idosas na cidade de São Paulo, na gestão Haddad.

Nascida em Mato Grosso do Sul, Glorinha mudou-se para São Paulo. E aqui foi reconhecida pela luta por igualdade e engajamento nos movimentos sociais com o título de Cidadã Paulistana.

O Sindicato agradece o legado e estende condolências a familiares e amigos.

Maria da Glória Abdo, presente!

Fonte: Rede Brasil Atual